Em entrevista ao portal LeoDias, atriz também reflete sobre envelhecimento e preconceito etário, temas que também permeiam sua nova peça, “O Casal Mais Sexy da América”
Após ser visto por mais de 50 mil pessoas e passar por 25 cidades brasileiras, o espetáculo “O Casal Mais Sexy da América” chegou ao Rio de Janeiro para uma curta temporada no Teatro Clara Nunes, depois de uma elogiada passagem por São Paulo. Em entrevista exclusiva ao portal LeoDias, Vera Fischer, estrela da produção ao lado de Leonardo Franco e Vitor Thiré, fala sobre o humor, as reflexões e os recomeços que a comédia romântica traz aos palcos.
Dirigida por Tadeu Aguiar e baseada no texto do premiado roteirista norte-americano Ken Levine, a peça mistura humor inteligente, romance e crítica social ao abordar temas como envelhecimento, igualdade de gênero e ética no trabalho. Vera conta que o que mais a encantou na proposta foi a confiança na equipe e a identificação com o tema.
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Comédia “O Casal Mais Sexy da América” é estrelada por Vera Fischer, Leonardo Franco e Vitor ThiréDivulgação/Carlos Costa

Susan White (Vera Fischer) e Robert McAllister (Leonardo Franco) em “O Casal Mais Sexy da América”Divulgação/Carlos Costa

Comédia “O Casal Mais Sexy da América” é estrelada por Vera Fischer, Leonardo Franco e Vitor ThiréDivulgação/Carlos Costa

Susan White (Vera Fischer) e Robert McAllister (Leonardo Franco) em “O Casal Mais Sexy da América”Divulgação/Carlos Costa

Susan White (Vera Fischer) e Robert McAllister (Leonardo Franco) em “O Casal Mais Sexy da América”Divulgação/Carlos Costa

Comédia “O Casal Mais Sexy da América” é estrelada por Vera Fischer, Leonardo Franco e Vitor ThiréDivulgação/Carlos Costa

Susan White (Vera Fischer) e Robert McAllister (Leonardo Franco) em “O Casal Mais Sexy da América”Divulgação/Carlos Costa

Vera Fischer reflete sobre maturidade e recomeços em nova peçaDivulgação/Carlos Costa

Vera Fischer reflete sobre maturidade e recomeços em nova peçaDivulgação/Carlos Costa
“Aceitei fazer porque, em primeiro lugar, tenho muita confiança no diretor e no Eduardo Bach, que são os dois produtores, fizemos uma outra peça, ‘Quando Eu For Mãe Quero Amar Desse Jeito’, que foi um sucesso extraordinário. Além disso, quando li o texto, vi que era algo muito atual, que fala sobre o momento que vivemos”, ressalta.
“Essa coisa dos atores que foram muito famosos quando jovens e que, ao chegar numa certa idade, 60, 70 anos — no meu caso, quase 74 —, têm dificuldade de conseguir ser chamados para trabalhos importantes. É justamente o que a minha personagem, Susan, fala no texto, e o personagem do Leonardo Franco, que também foi um ator muito famoso. Acho que isso foi uma das coisas que mais me chamou atenção à primeira vista”, completa a veterana.
“Amo minha solitude”
Na trama, Susan White é uma atriz que reencontra um antigo amor e revisita o passado. Apesar das semelhanças, Vera garante que leva uma vida bem diferente da personagem. “A Susan passou por problemas muitos sérios. Ela é uma mulher sozinha, sem filhos, e a única coisa importante para ela é a carreira. Ela sente que está perdendo isso. Mas, quando reencontra o personagem do Leo, eles revivem uma paixão antiga. Na época, eles eram casados e nunca tiveram nada, mas ficou uma paixão meio guardada. A Vera não tem isso (risos)”, diz.
“A Vera casou duas vezes, vivi relacionamentos longos. E não espero encontrar um amor como a Susan encontrou. Gosto de viver sozinha, estou aprendendo. Depois da pandemia, meus filhos foram morar sozinhos, adotei dois gatos e tenho um amor muito grande por minha solitude — eu leio meus livros, vejo meus filmes, arrumo minhas plantas, cozinho. Acho que estou nessa vibe. Agora, nunca se sabe, né? Vai que um dia eu encontro alguém e a gente vire namorado (risos). Cada um na sua casa, mas impossível não é”, continua.
O desafio do etarismo
O espetáculo também levanta debates sobre etarismo e reinvenção, temas que, segundo a atriz, são cada vez mais urgentes. “Fica muito claro na peça como as pessoas têm dificuldade em lidar com o envelhecimento — e isso não acontece só com atores. Em várias profissões, as pessoas também sofrem esse preconceito. Tanto mulheres quanto homens. E existe também outros problemas de cunho amoroso”, pontua.
“Normalmente, um homem mais velho consegue namorar uma mulher mais jovem, mas o contrário ainda é difícil. O importante é que duas pessoas se encontrem na mesma idade, e isso acontece na peça. A gente discute essa maturidade, tanto na carreira quanto no amor. O público tem gostado muito e vem nos contar, depois da peça, que também passam pelas mesmas situações. É muito interessante”, emenda.
“Sempre fui livre — e isso é uma faca de dois gumes”
Aos 73 anos, Vera Fischer segue sendo referência de elegância, talento e liberdade, e reflete com serenidade sobre o papel da mulher madura na arte. “Um dia, descobri que eu tinha talento. E a elegância vem de dentro, vem do ser humano. Claro que há também a elegância no vestir, no se apresentar, no conduzir a sua vida. E liberdade, sempre fui livre. Sempre! Mas é uma faca de dois gumes, porque quando você é livre, pode fazer o que quiser — e nem sempre acerta”, fala.
“Ainda assim, acho que estou conseguindo, aos poucos, entender que a maturidade me trouxe coisas muito boas. Antes, eu não tinha experiência, não tinha idade. Tudo que aconteceu na minha vida virou um arquivo dentro de mim — de sentimentos, de cultura, de aprendizado. E uma mulher madura, que tem tudo isso, pode usar com muita força. É o que faço hoje em dia”, afirma a veterana.
Paixão pelo teatro
Mesmo com uma carreira marcada por grandes papéis no cinema e na TV, Vera diz que é o teatro que mais a desafia e a completa. “Na televisão, fiz muito sucesso, durante muitos anos. Fui protagonista de todas as novelas e de todas as séries, e eu fui muito feliz, porque foram personagens muito bons, com muita força, cada um diferente do outro. Vivi muito bem a minha fase televisiva, tive muita sorte”, salienta.
“Mas o palco me desafia o tempo todo porque é ao vivo. E eu amo isso! Sou dona daquilo tudo, naquele momento — do palco, da luz, do cenário, da plateia, da minha voz, do texto. Aquela uma hora e pouco em que estamos no palco, sou dona de tudo, e isso me dá uma felicidade e uma força”, comemora.
Para a famosa, o teatro é o lugar mais revelador. “Eu posso estar doente, mas subo no palco e faço a peça. O teatro é o lugar mais fantástico, surpreendente e novo, onde você pode criar porque está ao vivo, não tem corte. Amo, realmente! Amo fazer cinema também, mas são coisas diferentes. E o teatro me dá muita segurança. Amo estar no palco!”, emenda a estrela.
Sobre dividir a cena com Leonardo Franco, a atriz se mostra encantada com a parceria: “Trabalhar com o Léo é uma novidade. Nunca tínhamos trabalhado juntos, mas temos uma forma muito bonita de representar. Há um respeito muito grande um pelo outro. Acho que fazemos um par que quem vê de longe pensa: ‘Esse casal poderia mesmo ser chamado de o mais sexy da América’. A gente troca muito, confia muito um no outro, e isso é maravilhoso. Tomara que a peça tenha uma longa vida, porque nós estamos nos dando muito bem e o público gosta muito”.
Ela também fala com carinho sobre o trabalho com Tadeu Aguiar, diretor da montagem: “Sou uma atriz cômica e dramática trágica, mas não canto, então não posso fazer os musicais do Tadeu, que eu adoraria (risos). De qualquer forma, ele sabe exatamente como me dirigir, porque é ator, cantor, toca piano, faz tudo. Às vezes, quando não estou entendendo o que ele quer, ele sobe no palco, faz a cena e mostra. Aí, tudo fica mais fácil e engraçado. Não é que eu vou copiar o que ele faz, mas ele me dá uma linha que fica mais fácil a compreensão. Ele me dá dicas perfeitas, que eu pego e não largo mais (risos)”.
“Não quero repetir o que já fiz”
Vera Fischer finaliza refletindo sobre os recomeços — tema central da peça e também de sua trajetória. “Sou uma atriz que já escreveu livros, pintou quadros, fez filmes trash no sítio, escrevi poesia (…) Sou uma atriz muito curiosa e certo ponto perfeccionista. Quero acertar no que faço, então não poderia parar de trabalhar como artista, não agora. Claro que, aos 73 anos, a gente precisa cuidar da saúde, descansar às vezes, mas o principal é ter cuidado com a saúde para estar no palco inteira. Não tenho a menor vontade de parar de trabalhar”, diz.
“Tenho mil ideias e todas são recomeços. Às vezes, são convites, outras vezes, ideias minhas. Só sei que não quero repetir o que já fiz. Quero sempre recomeçar, fazer coisas novas, testar. Se não der certo, não deu — mas eu sempre vou fazer. E isso, como eu costumo dizer, é o que me mantém viva”, conclui.